Psicoterapia

Quando devo procurar psicoterapia?

         Muitas vezes em nosso cotidiano, principalmente quando não estamos em nossos melhores dias, nos é recomendado por colegas/amigos/familiares a procura por um psicólogo. Contudo, faz sentido para você que o seu desejo de procurar um profissional seja baseado no olhar de outra pessoa?


          Por mais que isso possa ser um gesto de preocupação, é importante exercitarmos essa escuta de nós mesmos, saber quando atingimos nosso limite e quando devemos procurar ajuda. O sofrimento é singular e pode ser que seja notado apenas quando começar a interferir em nossas vidas a ponto de termos aquela sensação de que não estamos mais saindo do lugar.
          Para observá-lo, podemos nos atentar a seguintes acontecimentos no dia a dia:
  • Dificuldades nos relacionamentos pessoais, profissionais ou familiares;
  • Crises de ansiedade e/ou ataques de pânico súbitos;
  • Sensação profunda de tristeza ou desamparo;
  • Sensações de cansaço extremo após um dia “comum”;
  • Estresse no ambiente de trabalho ou em casa;
  • Dificuldade para se concentrar, dormir e/ou manter o sono durante a noite;
  • Distúrbios alimentares;
  • Entre outros;


          Por que “entre outros”? Embora eu tenha trazido essa lista, é apenas um exemplo do que acontece cotidianamente e muitas vezes deixamos passar em branco. Mas isso não quer dizer que o sofrimento não se manifeste de outras maneiras, mas pelo contrário, com certeza ele o faz.

O poder das palavras

     Durante toda a nossa vida, estivemos, estamos e estaremos inseridos na comunicação, na linguagem. Seja essa comunicação através de gestos, olhares, palavras e muitos outros. Na psicanálise, como já havia tratado por aqui, é muito falado sobre a cura pela fala, o que não implica em um total desaparecimento do sintoma, mas sim em uma transformação, um afrouxamento que nos permitiria desenlaçar aquilo que há de único para o sujeito que o sente.

     Em minha formação, tive a oportunidade de trabalhar com uma excelente profissional que, embora não exercesse a mesma abordagem que a minha, me acrescentava muito em suas supervisões. Certa vez ela me disse sobre a importância de entender que ao nomearmos algum sentimento, nos apoderamos dele.

     Em prática, ainda no estágio profissionalizante, me recordo de uma sessão em que, ao trabalhar esse tema com um dos meus pacientes, ele me questionou se era como em filmes de terror, onde parar exorcizar um demônio, antes era preciso descobrir o nome dele. Pessoalmente, eu não poderia descrever melhor do que utilizando da própria transformação de um conceito clínico em algo que realmente fazia sentido para aquele paciente.

     E isso é lindo na clínica. São momentos em que se nota claramente o processo da dupla analítica em prática. Ao passo de que trabalhamos sobre o poder que as palavras tinham, aprendi com ele sobre a subjetividade que nos rodeia. Embora estivéssemos falando sobre a mesma coisa, aprendemos de forma diferente, da forma que nos faz sentido.

     Esse é o poder das palavras. Não só nos utilizarmos de palavras complicadas e “elegantes”, mas sim nos sintonizarmos em uma mesma frequência. Mesmo que conversemos em uma mesma língua, muitas palavras representam significados diferentes e devemos nos inserir na linguagem um do outro para investigarmos o que elas realmente querem dizer. Isso é um enorme passo em direção à compreensão e posteriormente o alivio do sintoma, ou até mesmo a sua extinção.

A cura pela fala

     Afinal, qual a importância de uma escuta clínica aguçada?

     Ora, o sofrimento é singular a quem o sente, podendo ser expressado e manifestado de diversas maneiras. Muitas vezes, mesmo para quem sente, é difícil de percebê-lo, até que se torne insuportável. O psicólogo, utilizando desta técnica se propõe a escutar aquilo que pode estar nas entrelinhas da fala, investigando para além daquilo que se vê inicialmente, dando voz a esse sofrimento que parece inominável.

     Mas é claro que para que haja uma escuta, é preciso existir uma fala.

     Na minha clínica, o paciente ocupa este lugar ativo, em um espaço acolhedor, de reelaboração e ressignificação, sem julgamentos ou censuras, o qual se pode confiar. Partindo disso, o trabalho ocorre em dupla, de forma tão singular quanto o próprio sofrimento, sendo proporcionada a oportunidade de não só falar, mas também de ouvir a si mesmo, para que tenha ciência do sofrimento existente, podendo assumir e aprender a lidar com o mesmo.

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